A Escola Base nossa de cada dia

 

Deputado Jean Wyllys é a favor da pedofilia.

Vereador José Rainha do PT agride jornalista.

Entrevista do Marcola ao Globo.

Bolsa presidiário.

Uma breve passagem pelo Facebook é suficiente para encontrarmos todo tipo de calúnia, difamação e informações completa ou parcialmente alteradas, e pior, deliberadamente manipuladas. Um dos motivos, penso eu, é porque para muitos o Facebook é apenas um passatempo. Concordo em parte que não devemos levar tudo a sério, e que é bom rir de piadas, metáforas, gracejos de bebês, animais de estimação, etc. Rir é uma dádiva, mas também um porto seguro nesse mundo de calamidades. Ou rimos ou nos afundamos em um mar de agonia e desespero.

Mas o Facebook também reserva uma característica muito peculiar de nossa geração: a superficialidade. Seja honesto com você mesmo e responda se lê todas as mensagens de sua linha do tempo ou somente os títulos. Um exemplo foi a veiculação anos atrás da notícia “Torcida corinthiana é a mais sangrenta”. Trata-se simplesmente de uma campanha publicitária a fim de convocar os torcedores corinthianos para contribuírem com a doação de sangue. E a campanha funcionou justamente pela ambiguidade de sua chamada. A priori, as pessoas geralmente demonstraram total insatisfação e partiram para agressões verbais das mais variadas. Ao acessar a nota por inteiro, percebeu-se que se tratava de uma campanha bem criativa e digna de participação.

Pois bem, a julgar pela quantidade de mensagens distorcidas e sem fundamentação que circula nas redes sociais, percebe-se que muita gente sequer acessa o link para ler uma reportagem inteira, preferindo apenas “curtir” e compartilhar, caso goste, ou criticar (quase sempre significando agredir) sem antes averiguar o conteúdo. E um número bem menor ainda gasta tempo buscando outras fontes, a fim de se certificar se a história é verdadeira.

Eu não leio todas as mensagens de minha linha do tempo, mas virou questão de honra (e honestidade) me certificar de que as opiniões contidas em uma postagem – sobre as quais eu vou “aderir” ao clicar no botão curtir ou apenas comentar – sejam reais e de fonte confiável. Entendo que a questão da fonte é um pouco mais complicada. Não é de hoje que até os grandes veículos de imprensa cometem deslizes fenomenais no que se refere à reverberação de notícias falsas.

Um caso clássico é o da Escola Base. Icushiro Shimada e Maria Aparecida Shimada, proprietários da escola, juntamente com cinco funcionários, tiveram suas vidas devastadas após uma falsa acusação de abuso sexual de crianças a partir de quatro anos de idade. Sem fatos objetivos e marcada por acusações precoces, a história foi amplamente divulgada na imprensa, causando comoção nacional e pedidos de “justiça”. Houve um verdadeiro massacre contra os acusados. Icushiro morreu semana passada, vítima de um infarto e sua esposa Maria Aparecida de câncer em 2007. Mas a julgar por todo o sofrimento e perdas irreparáveis pelas quais eles passaram durante todos esses anos, pode-se dizer que suas vidas acabaram mesmo em 1994.

Icushiro Shimada, dono da Escola Base, morto semana passada
Icushiro Shimada, dono da Escola Base, morto semana passada

Também semana passada, dia 5 de maio, morreu Fabiane Maria de Jesus, 33, em decorrência de um linchamento ocorrido no Guarujá, logo após ser identificada como uma “suposta” sequestradora de crianças. Sua morte foi motivada basicamente por boatos na internet, sem qualquer verificação.

Alguns poderiam argumentar que seria um exagero sugerir uma associação entre os boatos que mencionei no início desse texto e a história da Escola Base e o assassinato de Fabiane. Estou mais do que sugerindo. Estou afirmando que se não houver uma mudança de atitude, vamos continuar colaborando para incentivar calúnias, repassar inverdades e, como temos assistido, contribuir para a morte de pessoas inocentes. Aliás, penso que contribuir para a morte de um culpado não seria mais honroso. Não se trata de mera fofoca, pois esse comportamento impulsivo e punitivo está acabando literalmente com a reputação e até com a vida das pessoas.

Que tipo de pessoa de bem nos consideramos, quando sem critério algum fazemos circular qualquer notícia que nos chegue às mãos? Estamos tão cegos pelo ódio que não nos importamos nem se é verdade ou mentira, usando uma retórica bem reducionista: “eu não gosto dele/a mesmo”. O pior é que muitos de nós sequer se retrata ou apaga a postagem caluniosa. Mea culpa inexistente. Quantas retratações públicas de gente que encaminhou mensagens caluniosas você tem visto recentemente? Às vezes essas mensagens são simples e sorrateiramente apagadas, na esperança de que caiam no esquecimento.

Semanas atrás entrei em uma discussão por conta de uma postagem bastante caluniosa em relação ao Deputado Jean Wyllys. A mensagem dizia respeito de seu envolvimento com pedofilia, algo do tipo sobre sua tentativa de legalizar a relação sexual entre adultos e crianças. Nada mais absurdo, especialmente em relação a um parlamentar envolvido publicamente na prevenção da violência infanto-juvenil. Eu não conheço o deputado pessoalmente, não sou seu eleitor, nem simpatizante de todas a suas ideias e opiniões políticas. Mas é notório que muitas das críticas voltadas à ele são de caráter moral, especialmente no que se refere à sua sexualidade.

Pois bem, à certa altura da discussão uma pessoa afirmou, assim sem qualquer pudor, que não se importava nem um pouco se a história era verdade ou mentira. Seu argumento se baseava nos “atentados contra a família tradicional”, frutos da “tanta liberdade” que há hoje em nosso país. Finalizou dizendo de forma contundente e arrebatadora que, “onde há fumaça há fogo”.

Me coloquei à pensar: como não se importar? Discordar da posição política ou ideológica de alguém é totalmente aceitável e legítimo. É um direito. Mas não se importar que uma injustiça seja cometida com alguém, com quem quer que seja, é legítimo? Especialmente para cristãos? [Esse era o recorte da conversa.] Que tipo de evangelho é esse que se vive?

Se onde há fumaça há fogo, estamos todos cobertos de fuligem.

Deixe um comentário